quinta-feira, 3 de maio de 2012

Mais uma história! ♥


Vou contar-vos a minha história de amor... Mas que, de amor, tem pouco. Podia contar-vos a história da minha vida amorosa que começou quando eu tinha 17 anos e acabou quando eu tinha 26. Mas vou poupar-vos a esses altos e baixos e vou centrar-me no fim desta relação. Uma relação de casa montada a 200 kms da família, sem casamento porque nunca o quisemos, sem amigos por perto. Um arriscar numa cidade grande para tentarmos trabalhar nas áreas em que nos licenciámos. Um dia, ele pediu-me para eu sair de casa. Eu ignorei. Outro dia, e outro e outro... Até que eu desisti da relação e aceitei uma proposta de trabalho numa outra cidade. Saí de casa e aluguei um quarto. Passado uns meses, saí desse quarto e aluguei outro na cidade onde estava a trabalhar. Só queria distância daquela cidade, daquela realidade, daquela pessoa - daquela com quem eu achava que ia ficar para sempre. 

Adaptei-me bem à minha nova realidade depois de ter passado por momentos muito maus. Depois de muitas lágrimas choradas à custa de um desgosto valente, à custa de perceber que os sonhos se destroem com tanta facilidade... Chorei, esperneei, revoltei-me... Não queria ouvir falar em rapazes tão depressa, não queria saber de nada. E estava conformada. No meio onde trabalho não há homens. Amigos do sexo oposto também não tinha... Só um acaso me poderia fazer conhecer alguém. Mas a vida troca-nos as voltas e por mais que eu achasse que ninguém ia olhar para mim - sim, porque eu não sou aquela rapariga bem vestida e arranjada, eu sou do estilo prático, muitas vezes a despachar - a vida fez-me perceber que eu consigo chamar a atenção com o que o sai de dentro para fora. 
Fomos de viagem de fim de ano com os nossos alunos para o meio da serra. Tínhamos 3 dias de atividades orientadas por uma empresa de animação e o nosso chefe (meu e das colegas que foram comigo) sempre nos disse que nós íamos para lá para descansar, não tínhamos que fazer nada com os miúdos porque havia lá pessoal contratado para isso. E assim foi. Nada fizemos. Rimos, conversámos, apanhámos sol, tirámos fotos, mandámos bocas aos monitores - sim, eu estava livre e gostei de encavacar um miúdo de 18 anos que lá andava com uma carinha gira. Ao fim do segundo dia houve troca de coordenador de monitores. Eu não sou pessoa de tirar as medidas a ninguém e era normal entrar e sair gente ali daquele espaço que eu não conhecia. Vi um senhor engravatado a falar com o meu chefe e não liguei. Continuei a minha vida - andava a gravar vídeos cómicos com uma coroa na cabeça, a fazer umas belas figurinhas. Pois que mais tarde esse dito senhor engravatado (já de calça de ganga e ténis) se veio apresentar com um sorriso de orelha a orelha: "Bem, já que ninguém nos apresenta, eu apresento-me. O meu nome é Miguel e sou o novo coordenador. Vocês são as professoras dos meninos, certo?" "Certo!" - dissemos nós. Demos 2 beijinhos ao senhor e eu pedi para não nos tratar por você porque não éramos assim tão velhas! Começou aqui... Teimando que éramos mais velhas, com certeza. Falava ele, cheio de cabelos brancos. Daqui em diante fui constantemente bombardeada... A minha colega só se ria e eu nem queria acreditar naquilo. Tentei ir dormir mas ele foi lá bater à porta... Tentei dormir novamente e ele abriu-me a janela e mandou-me um bilhete lá para dentro... Tentei descansar mais na manhã seguinte e ele entrou-me no quarto a tocar vuvuzela... Tive que me levantar e aparecer à janela com um lenço branco enquanto ele sorria de orelha a orelha. Foi convidar-me para fazer slide com os miúdos mas com uma noite tão mal dormida o meu humor estava péssimo. Aquele era o último dia ali. Depois de um clima notório para todos os presentes, ele foi embora e deixou-me um cartão da empresa onde trabalha com a desculpa de me arranjar um telemóvel - porque ele tem muitos e o meu estava estragado. "Depois manda-me uma mensagem com o teu número e falamos. Mas não me mandes mensagem logo assim que eu sair ali pelo portão!" Ele foi embora e eu fiquei na serra para ajudar num evento que ia acontecer lá no dia seguinte. Mandei-lhe a primeira mensagem à uma da manhã... E no dia seguinte trocámos 60 mensagens. Assim continuámos durante o resto da semana mas ele já me tinha dito que não nos podíamos apaixonar. Achei aquilo estranho e disse-lhe isso. Ele repetiu "não nos podemos apaixonar" e eu deixei-me estar na mesma... As conversas continuaram sempre no mesmo tom de querer conhecer melhor até que surgiu a primeira conversa telefónica - 3 horas - e o convite para um café. O café estendeu-se até às 4h da manhã e ele contou-me o desgosto da vida dele - que era em tudo semelhante ao meu. "Olha que dois se juntaram aqui!, pensei eu! As coisas continuaram neste tom até que eu voltei a ir até à serra onde ele estava a trabalhar como coordenador. Agora imaginem o que é alguém por quem estamos fascinadas, alguém que parece ser a melhor pessoa do mundo, super sincero e frontal, dizer-nos em frente de uma lareira, com uma viola nos braços, que está apaixonado por nós... Eu fiquei parva e achei que ele estava a brincar. Deixei-me rir e devo ter perguntado qualquer coisa como "estás a falar a sério?!" Eu não acreditava em mim, como devem calcular... Por isso era difícil aceitar/acreditar que aquilo era real. Mas eu disse-lhe que não estava apaixonada. Sentia-me fascinada mas não me sentia apaixonada e como ele tinha posto aquele "bloqueio"... Ele explicou-se dizendo que aquilo foi mais uma imposição para ele porque percebeu logo que corria perigo. 
Essa noite da declaração foi surreal. Eu estava carente, estava num sítio espetacular e tinha 1,83m a dizer-me que estava apanhadinho por mim. Começou aqui a minha experiência big brother, como tantas vezes lhe chamámos. Os dois numa casa de pedra, mesmo à filme, no meio de uma serra linda, sem sinais de vida citadina... Tudo o que os dois gostávamos. Dormimos juntos todas as noites mas nunca aconteceu nada entre nós. Só abraços e carinhos muito softs e muita, muita conversa. Dois adultos na mesma cama que não fazem mais nada além de conversar e abraçarem-se como se não houvesse amanhã. Alguém disse aqui que percorreu o contorno das sobrancelhas... Eu também lhe fiz isso vezes e vezes sem conta (e ele dizia-me: "sim, podes gozar, eu faço as sobrancelhas") enquanto o ouvia. Ele estava trabalhar na serra durante 3 semanas seguidas e não podia sair de lá. Eu fui para lá sempre que pude e a sensação de paz era sempre a mesma. Ele inspirava-me calma e aquilo mexia comigo de uma forma muito estranha porque nunca, jamais, em tempo algum me imaginei dividir uma cama com alguém que não conheço. Mas ele era diferente. As coisas com ele faziam-me sentido. Tudo entre nós fazia sentido mas ele ia embora dali e a vida na casa de pedra ia acabar. A cidade esperava por nós. Tínhamos receio da realidade mas tudo se encaminhou bem. Ele continuou a ser a mesma pessoa. Ia visitar-me quando podia, íamos jantar... Coisas que ainda não tínhamos feito porque estávamos na serra - onde ele trabalha quando tira férias do seu trabalho real - numa grande empresa nacional, onde se stressa muito, onde passa muito tempo, onde tem que andar todo engravatado. Chegaram as minhas férias e eu fui para casa dos meus pais. Tentámos despedir-nos mas não deu. Fui embora e ele voltou para a serra no final dessa semana. Ficámos mais distantes porque o trabalho lá também é muito exigente - e eu compreendo. Mas a estadia na serra acabou e ele deixou de responder às mensagens, deixou de ligar. Eu não insisti. Já me tinha magoado uma vez, já tinha corrido atrás de uma pessoa por quem eu achava que devia correr e, por isso, achei que devia ficar quieta. O homem que me disse que sentia certezas comigo que nunca tinha sentido com mais ninguém,o homem que me disse várias vezes que tinha vontade de fazer amor comigo mas que achava que era cedo e que, se esperássemos, podia ser ainda mais especial, o homem a quem perguntei: "mas quando é que me deixas dar-te um beijo a sério?" e me disse "não sei", o homem que me disse: "eu considero-me uma pessoa feliz mas nunca me tinha sentido assim", decidiu desaparecer sem dizer nada... Depois de me dizer que nunca me iria abandonar por uma coisa pouca... Nunca entendi. Mas uma coisa é certa: nós os dois juntos tínhamos uma força brutal, sentíamos uma segurança que não se descreve, só se sente. E eu, uma insegura, uma pessoa que não se deixa conduzir, com ele ia na boa, sem medo. Eu confiava mesmo e não vos consigo explicar como é que eu confiei em alguém que mal conhecia. Mas era um sentimento mútuo. 
Falei com ele uns meses depois... Como? Via facebook! Este GRANDE meio de comunicação - cobarde, muitas vezes. Falei com ele na boa mas garanto-vos que continuei sem entender o que se passou. Ele já tentou falar comigo, já me ligou várias vezes e mandou mensagens. Reconheceu que errou e pediu desculpa.... Mas quem abandona uma vez pode muito bem abandonar duas, não é? Pois... O que me irrita no meio disto tudo é que, passado este tempo, e ainda há um mês falei com ele por telemóvel (no dia em que ele apareceu no meu trabalho para uma reunião com o meu chefe - a única vez que o vi desde então) , a voz dele continua a inspirar-me calma e segurança. E isso irrita-me porque eu não queria sentir isso. 
Eu não acredito em coincidências... Não sei o que o futuro me reserva mas a lição que tiro disto até agora é que ele me mostrou que eu consigo despertar o interesse de um homem, que continuo a ser uma mulher, apesar de ele não ter conhecido nem metade. Não lhe desejo nada de mal, muito pelo contrário. Ele só me fez bem e guardo-o no meu coração junto da imagem da casa com jardim que ele me perguntou se podia mandar construir para nós. Embalo esta história na cadeira de baloiço do quarto do sótão que ele disse que podíamos ter, porque eu disse que gostava. Foi efémero, mas... Enquanto durou foi apenas, e só, lindo.

3 comentários:

  1. Eu não desistia.Não tem que ser fácil. Tem que ser prazeroso e sincero. :)

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  2. A vida não é linear, não é certa, não é segura... no entanto, é preciso saber ler na entrelinhas e tirar os melhores ensinamentos mesmo das piores situações... Acredito que na vida as coisas não acontecem por acaso e esta pessoa apareceu para te mostrar, no momentos em que não acreditavas, o melhor que tens dentro de ti... E é natural que de algum modo o sintas dentro de ti, mesmo não havendo a perspectiva de um futuro, porque "as coisas vulgares que há na vida não deixam saudades, só as lembranças que doem ou fazem sorrir..."
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    1. Muito obrigada pelo comentário R e Eli!
      Tudo serve para nos ensinar algo, para nos tornarmos mais fortes é verdade.
      Mas muitos das pedras que vamos coleccionando ao longo da vida chegam a uma altura que nos pesam na bagagem, perdemos as forças para continuar a caminhada, deixamos de acreditar e qualquer estímulo nos parece irreal. Mas temos de superar tudo isto, aprender e sermos felizes e sentir-nos bem com nós próprios a cima de tudo.

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