quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mais uma história que partilharam connosco e que nos toca no ♥:



Entrou na minha vida numa altura que nunca vou saber se foi certa ou errada, tinha acabado de sair da pior relação da minha vida, abusiva tanto física como psiquicamente. Aliás ainda nem tinha bem saído porque continuava a ser perseguida e massacrada pelo ex-descompensado, mas tentava seguir em frente.
Era Verão, estava em Leça, numa esplanada da moda a abarrotar de gente gira, sentia-se no ar uma mescla de perfumes frescos, after sun e sangria de champanhe. Cenário perfeito com vista para o mar, o céu ainda por cima gritava que o dia seguinte ia trazer mais calor e ao longe as milhares de luzes da Petrogal faziam-me sentir que o mundo era um show apoteótico. Não podia pedir mais nada depois de tudo que tinha passado, chegava-me aquela normalidade e liberdade que há muito não tinha. Entre gargalhadas e conversas tontas surge um amigo dos amigos e pergunta se pode juntar-se à malta. Apresentou-se, era alto, de olhos e cabelo tipo mel e percebia-se por aquele moreno que brilhava que se cuidava bem, já em relação ao estilo precisava de um toquezinho fashionista. Nunca fui de colar em ninguém e mesmo com aquele nível todo continuei em amena cavaqueira com a minha melhor amiga e os sorrisos eram cúmplices quando ambas reparávamos que ele tinha colado em mim. Ela queria aquilo para mim muito mais do que eu. Tinha prometido horas antes que não queria mais gajo nenhum nesta vida e nas três seguintes, porque só me saíam loucos e não queria desfazer essa promessa nem por nada, não era por medo, era apenas vontade de finalmente me sentir livre e aproveitar cada momento que tinha perdido. Se mais depressa tinha prometido afastar-me, mais rápido ele se mandou para a pista e fez o convite para o dia seguinte, claro que a melhor amiga respondeu logo por mim, claro que vamos enquanto da minha cabeça saíam balões de banda-desenhada que aposto que até ele viu a dizer nãaaaaaao! Na volta para casa vim a ouvir música o caminho todo dela e do namorado: ele é espetacular, é a pessoa mais fixe da equipa, é um gajo do caraças, inteligente, ele já tinha reparado há muito em ti nos camarotes, bla bla bla... coloquei a frequência em AM e eles em FM no máximo e modo repeat, estavam a adorar a ideia de formar um possível casal enquanto eu estava entusiasmadíssima, mas com a ideia de ir de férias para o Baleal.
Dia seguinte, café com os mesmos mais um, mudava apenas o local. Não queria ir. Ou melhor queria, mas por alma de quem ele também tinha de lá estar? Ah ok, o convite partiu dele. Nem sequer podia dar a desculpa à minha amiga que tinha de ir treinar no arame à artista de circo e de seguida jantar na minha madrinha, essa desculpa ela já conhecia, quando eu não queria ser indelicada utilizava essa história para a dar o corte a póneis, balelas e ruivos. Lá fui eu e realmente além de giro, era super simpático e engraçado, já não lembrava de me rir assim mesmo que ainda tivesse o olhar vazio, pelo menos a alma estava lavada. Mal cheguei a casa recebi esta sms "Sei que não querias muito, mas obrigado por teres vindo, és uma companhia fantástica. Soube-o desde a primeira vez que te vi mesmo por trás dessa cara linda e desse mau feitio. Espero que se repita muitas vezes. Beijo. Lourenço". Ao receber esta mensagem soube imediatamente que ele tinha visto realmente os balões a saírem-me da boca com o nãaaaao e que me ia meter em sarilhos. Ainda por cima logo de seguida caía sms do ex "Podes não ser minha, mas não vais ser de mais ninguém. Não consigo viver sem ti." e outra pior ainda "Quem era o gajo de camisa preta que estava convosco no café? Mato-o a ele a ti.". Não podia acreditar que tinha sido vigiada mais uma vez, mas ao mesmo tempo já não me admirava. Estava mais do que habituada ao sombra e ao menos desta vez não tinha feito um escândalo. Enervava-me apenas o facto de já ter descoberto o meu novo número outra vez. Não respondi a nenhum, preferi deitar-me de barriga para baixo e dormir. Estava praticamente de partida para o Sul, só tinha de mudar de número e fazer as malas para 15 dias, o que significava levar o closet às costas. Nunca sem antes contar o sucedido à Maria, claro! Ela era parte de mim, a irmã que nunca tive, aliás éramos conhecidas pelos dois tomates, o que é sempre bom e cá em casa ela era pessoa omnipresente, parece que não está mas está, seja no telefone fixo, ao telemovel, no messenger, na porta da rua com um capacete à espera, ora a experimentarmos roupa para sair.
E lá fui eu, não conhecia ainda o local, mas pelo que tinha visto ia gostar bastante, havia 3 surfistas por cada m2 e por isso o meu espirito ia estar descontraído ao máximo. Assim foi, para-para-paradise foi o que pensei quando cheguei, era tudo lindo, perfeito e ao mesmo tempo simples e descomplicado. Pela primeira vez em dois anos sentia uma lufada de ar fresco, o número novo também ajudava, só mantinha contacto com os realmente próximos. Passado uns bons dias de praia e mesmo torrada por tanto sol na cabeça percebia que no Norte o Lourenço já fazia parte do meu grupo de amigos, qualquer comentário que faziam sobre uma ida à praia ou ao barzinho faziam sempre questão de dizer que ele também tinha ido e que era do caraças, percebia nas entrelinhas que ele já estava a par de tudo o que passei, sabia o quanto os meus amigos tinham idealizado ver-nos juntos e por isso iam fazer de tudo para que ele entendesse que eu não era uma gaja fria e anti-social, mas que estava a sair de algo equiparável a um coma profundo e precisava de tempo para sarar as lesões. A Maria estudava enfermagem, o que dava um tom ainda mais profissional à coisa.
Só não era boa a adivinhar os números do euro-milhões, o telefone tocou, era ele, começou por pedir desculpa por estar a incomodar mas que era mais forte do que ele e que não sabia muito bem o porquê, mas que teve imensa necessidade de o fazer. Falamos uma hora seguida e claro, estava certa, ele já estava ao corrente da história feia e por isso mesmo ainda tinha mais vontade de me conhecer melhor, de estar ao meu lado. É daquelas coisas que caem bem, mas que ao mesmo tempo quando estamos off do mundo parece que nem batem a sério, agradava-me apenas pela companhia que me estava a fazer e pelos sapatos de salto alto que tinha oferecido ao meu ego. Fazia-me sentir bem e tinha sido sempre sincera com ele, não me queria apaixonar tão cedo, não queria sarilhos e muito menos para o lado dele.
Estava quase a chegar o fim-de-semana, algo me dizia que os meus amigos iam aparecer a qualquer momento e claro como tinham estado muitos dias sem mim, tinham tempo e mais que tempo para organizar a táctica de jogo em relação ao derby Lourenço-Eu e ele como melhor ponta de lança da sua equipa não ia falhar quando eles cruzassem para a área. Surpresa (ou não), aí estavam eles no Baleal, a verdade é que tinha adorado que eles tivessem mesmo aparecido e nem o telefonema anonimo, que era claramente do meu ex doente para o Lourenço, pedindo para se afastar de mim nos estragou o almoço. Era bom tê-los comigo e a cada minuto que passava sentia que eram exatamente aquelas três pessoas que eu queria ali pelo bons momentos que me estavam a proporcionar. Estava embriagada de alegria e num dos passeios de carro até à praia Del Rey, com a música nas alturas sentia o cabelo a ser levado pela aragem que entrava pelos vidros abertos e pensava ainda bem que não tinha preferido morrer quando já não aguentava mais aquele estafermo. Acreditava que ainda havia vida dentro de mim. E mesmo descabelada de todo, o Lourenço olhava para mim como se eu tivesse saído das mãos da minha hair stylist. Era mesmo simpático e querido, além de ter um rabo mesmo top.
Como todas as férias passam muito rapidamente, já estava praticamente de volta ao Porto, mas com bateria carregada, só faltava saber como fazer as mesmas malas, na hora de voltarem as peças parecem sempre multiplicar-se, irra!
Com o passar do tempo eu e o Lourenço éramos cada vez mais inseparáveis, o ex seguia-nos, mas só dava a cara quando me apanhava sozinha, bateu-me uma das vezes com a cabeça contra a porta do prédio e mais uma vez ameaçou que eu nunca seria de ninguém, enquanto me pedia para voltar para ele. Com os nervos em frangalhos e sem poder dar nele, desfiz-lhe a frente ao pontapé, acho que o matava se não se tivesse trancado dentro do carro. Estava outra vez a passar-me completamente.
E por cenas tristes e feias como estas pedia ao Lourenço que se afastasse de mim, que isto não era vida para ninguém. Também a ex dele lhe ligava de vez em quando a marcar presença. Claro que isto só nos unia mais e mesmo depois de tanto retaliar e grunhir que não queria namorar, chegou o dia em que me preparou mais uma surpresa, mas esta impossível de resistir até para mim que nunca fui muito panisgas. Tinha-me ligado a dizer para marcar o código à entrada, mas para ir pelas escadas. Barafustei como sempre, porque é que não podia ir de elevador se até para ir comprar pão vou de carro?! As vezes acho que a minha sensibilidade foi uma das maiores lesadas pelo "coma profundo", não tentava perceber as coisas e só depois me caía a ficha de que estaria a preparar uma surpresa e se me pedia para utilizar as escadas só tinha de o fazer. Marquei o código, subi até ao 1º andar e lá estava um papel que dizia: “Sei que não gostas de receber ordens, por isso vou pedir-te que sigas as minhas instruções: queria que fosses lendo as mensagens que encontrares pelo caminho”, continuei para o 2º andar e li : “Esta foi a forma que encontrei para te tentar transmitir tudo aquilo que sinto por ti. Não é nenhuma prenda, nem é nada de especial, mas espero que depois disto tenhas a certeza do quanto és ESPECIAL para mim”, já estava de olhos embaciados e com duas rosas na mão. Segui para o último andar, recolhi a terceira rosa que estava por cima desta mensagem: “Antes de entrares em minha casa gostava que fechasses os olhos. Espero que confies em mim, deixa que te leve nos meus braços até eu dizer para abrires os olhos. Agora entra e sente que te amo e que quero ficar contigo para sempre...”. Já com as pernas a tremer, não só por ter subido algo parecido com a escadaria da Nossa Senhora dos Remédios, mas porque realmente estava emocionada, entrei de olhos fechados para a sala e conduzida por ele, ouvia-se "I love you more than all that's on the planet, Movin', talkin', walkin', breathin', You know it's true, Oh, baby it's so funny" - oh era a mesma música que tínhamos ouvido vezes sem conta na viagem a Del Rey. Quando me pediu para abrir os olhos estávamos abraçados dentro de um quadrado desenhado por velas. Só tinha de responder sim ou sim, não tinha outra hipótese. Além de me fazer bem, tinha tanto de giro como de inteligente e ainda por cima tinha um six-pack abdominal esculpido. O namoro era saudável, energizante e ao mesmo tempo tranquilo, éramos muito felizes juntos, mas não demorou muito a tremer quando o estafermo conseguia mais uma vez o meu número e as ameaças eram cada vez mais graves. Mais uma vez conseguia aquilo que sempre quis, destabilizar o meu mundo, não poderia ignorar a voz de uma pessoa louca e descontrolada, já não temia por mim, mas sim pelo pelo que poderiam fazer um ao outro. Ele sabia que eu não sentia nada pela outra pessoa a não ser pena e nojo, mas que assim não conseguia continuar a namorar, os problemas eram meus e só meus e não ficava bem comigo mesma se lhe causasse algo mau, não sabia do que a outra pessoa era capaz. Não estava a acreditar que a minha vida estava outra vez de pernas para o ar e pior estava a magoar quem não merecia, automaticamente afastei-me, tinha voltado a ser racional e por isso mais fria. Queria que o Lourenço deixasse de gostar de mim, assim não sofreria, afinal eu não estava ainda pronta para lhe dar o que ele tanto merecia: tudo!
Estava a dar o tilt mais uma vez, os pais voltaram a marcar-me psiquiatra com receio que tivesse perto de mais uma depressão, naquele momento acho que lhes passou pela cabeça contratar a Mafia para darem cabo dele, já não aguentavam mais. Era os meus pais a ele e os pais do Lourenço a mim. Imploravam-me ao telefone para que voltasse para ele. Passado uns tempos e no dia anterior à consulta, recebo um telefonema da mãe do Lourenço, estava a chorar e só me dizia ele foi embora, não está aqui, nem na casa dele, ele foi embora, por favor faz alguma coisa. Do lado de cá chorava eu também e apetecia-me esbofetear-me por me ter deixado ir, eu sabia que lhe ia trazer sarilhos e nem ele nem a familia mereciam. Óbvio que lhe liguei, tinha conduzido horas sem fim para arejar a cabeça e ainda não tinha parado daqui ao Algarve, pedi-lhe que voltasse, para que não magoasse os pais da mesma forma que eu o estava a magoar. E assim foi, o meu espanto quando estou a chegar ao hospital, ele estava ali para me apoiar, estourado da viagem de ida e volta, mas estava. Bastou um abraço para saber que tinha de fazer de tudo para lhe dar mais, era indiscutivelmente o meu melhor amigo e a pessoa mais querida do mundo. Com um psiquiatra nota 10, o resultado só poderia ser excelente, dizia-me pela terceira vez já te disse que não és tu que tens de estar aqui, tu estás bem, o caramelo que te poe a vida em pantanas é que precisa de ajuda, de internamento talvez, o teu papel mesmo que estejas a estudar Psicologia não é ajudá-lo, é afastares-te o mais que puderes e evitares confrontos com ele porque só vais gerar mais quadros de ansiedade e picos de nervosismo e é isso que não te faz bem. Aproveita a vida, ainda és muito nova - acho que sempre olhei para este médico como um avô ternurento, mas que sabe o que diz e só queria era que ele me desse forças para seguir em frente com a leveza que só ele me podia dar.
Saí do consultório pouco convencida que me ia conseguir livrar do animal, mas pelo menos não ia continuar a correr da minha vida quem me queria bem.
Mudei mais uma vez de número, os dias passavam-se sem grandes sobressaltos. Após mais uma investida à grande, estava ali parada a olhar para um terreno com as letras AMO-TE a arder, era para mim. O Lourenço estava a gritar ao mundo que me amava e eu mesmo que me quisesse armar em surda e principalmente em muda para não dizer o sim novamente, não tive grandes hipóteses. Voltamos a namorar. Tinha o que todas as raparigas almejavam: um amor lindo e um melhor amigo. Nunca consegui estar a cem por cento. Ele tentava. Mimava-me todos os dias, pecava até pelo excesso de presentes, ora era um relógio Armani, ora umas botas Paulo Brandão, ora um jantar no D. Juan, ora um jantar feito por ele. Não parava de surpreender. Só não gostava quando ele me dedicava golos durante o jogo, morria de vergonha!
Um dia foi até longe de mais, tatuou em árabe as costas ao longo de toda a espinha, o meu nome seguido da frase "Tudo o que sonhei encontrei", amuei com ele durante dias, não achei piada nenhuma, o meu maior medo era que ele se tornasse obcecado como a pessoa que eu mais detestava à face da terra.
O amuo durou até me levar à Associação Protetora dos Animais, queria que escolhesse um gatinho para trazer para casa dele, ali estava uma bolinha de pelo amarela, em condições precárias e se uma parte de mim vinha feliz com o novo amiguinho, outra parte estava deslaçada por dentro, havia tantos mais a precisarem de um lar. Dei-lhe o nome de Pipo, surgiam os ciumes de que gostava mais do gato do que dele (na altura achei aquilo despropositado, mas os que vieram a seguir queixaram-se do mesmo) e eu dizia que ele estava era parvo, mas quando voltava para casa sabia que não me podia enganar mais a mim mesma, o que sentia pelo Lourenço não era amor, não me conseguia entregar, mas ao mesmo tempo não podia acreditar que o ia magoar outra vez, isso magoava-me também. E dizer-lhe o quê? Olha vais-me desculpar mas és perfeito demais para mim e além do mais és espetacular com os meus amigos e familia! Já para não falar que só me vinha a tatuagem à cabeça - não, boa! Agora o rapaz vai esfregar aquilo para sair?!
Começava a acreditar que só poderia estar a ficar maluca. As pessoas com quem falava diziam vais deixar escapar uma pessoa assim? E eu respondia quando conseguia articular uma frase: ele merece mais do que eu, eu não o amo.
Continuei a tentar, hoje ainda me pergunto se foi o suficiente, tivemos durante o namoro mil conversas até que já não dava mesmo mais, sentia-me sufocada por estar a receber tanto amor e não ter nem metade para dar.
Sentia-me zangada com a vida, estava a sofrer outra vez. Primeiro tinha acabado com uma pessoa que me fazia mal por me amar doentiamente e depois quando tudo era perfeito, ia acabar com uma pessoa que me fazia bem e que me amava de forma saudável? E aquilo batia-me nos miolos horas a fio, tal e qual como um pássaro bico-de-chumbo no tronco de uma árvore. Andava angustiada, desiludida comigo mesma, culpava-me por não conseguir dar mais. Caramba, ele merecia tudo. Quanto mais eu tentava, mais atritos havia e rebentava cada vez que ele ficava triste. Não podia vê-lo triste. Ele tinha trazido de volta o meu sorriso, não era justo. Acho que cada vez que lhe dizia desculpa, eu não te amo, sofria mais eu do que ele. Ele acreditava que isso iria mudar, eu sabia que não.
Entre muitos altos e poucos baixos chegou a segunda passagem d'ano juntos. Deixamos o Pipo em casa dos meus pais para não ficar sozinho e fomos passar a passagem d'ano com amigos, tal como a anterior, mas desta vez na Agudela, pertinho. O ambiente não era de todo o melhor, eu estava por um fio, cada vez que ele me abraçava eu sentia um aperto, borboletas mortas no estomago e ele bebia whisky puro, provavelmente para alegrar ainda mais as dele, mas em doses que se dá aos elefantes quando precisam de arrancar um dente. Jantamos, dançamos, meia-noite, puff acabou. Não conseguia mais. Ele sai disparado e bate com o carro contra um poste. Felizmente não foi nada de grave, ao telemovel diz-me que não passou apenas de um susto e chapa batida e onde doía mesmo era dentro dele. Voltou para trás, conversamos nessa noite até de manhã, estávamos claramente mais empenados do que o carro acidentado. Eu acho que naquele inicio de ano sequei todas as minhas lágrimas, não conseguia parar de chorar ao mesmo tempo que lhe implorava que me desculpasse, que entendesse que infelizmente não podemos mandar no nosso coração e podia não amá-lo, mas era a pessoa mais linda que tinha conhecido e de quem mais gostava e por isso mesmo só queria que ele fosse feliz e comigo não iria dar. Claro que depois de me deixar em casa, dormitei agarrada ao Pipo que no dia a seguir já estava mais preto do que laranja e eu parecia o verdadeiro panda asiático com os olhos todos pretos, borratados de rímel de tanto chorar.
Esse dia, 1 de Janeiro foi talvez dos piores momentos da minha vida, decidimos que eu ficava com o Pipo, mas tínhamos de seguir trilhos diferentes por muito que isso custasse, já não havia muito a dizer por muito que ele dissesse furioso comigo que isto era uma burrice e que me ia arrepender. Desliguei-me forçosamente. A vida seguia, tinha de seguir.
Passado muito tempo ligou-me, estava prestes a casar, eu já sabia pela Maria que era com a pessoa que tinha namorado oito anos antes de me conhecer, ela nunca desistiu dele. Perguntou-me: ainda não te arrependeste? No fundo ele mudaria mais uma vez o rumo dele se a minha resposta tivesse sido diferente. Não, não me arrependi. Quero que cases e que sejas muito feliz. Desde que te conheci que sei que mereces o melhor do mundo e agora isto é o melhor para ti. Sê muito feliz! - e desliguei o telemovel.
A verdade é que nunca consegui amá-lo, nem dar-lhe tudo. Dei-lhe o que podia, acho que a melhor coisa que fiz por ele foi ser amiga de verdade, fazê-lo rir tantas e tantas vezes e pedir-lhe para que fosse embora, que fosse ser feliz. Ele merecia tanto!
Já se passaram anos e anos. Este Verão enquanto levava o meu afilhado à água numa praia de Albufeira, chapinaram-me e quando eu preparo o meu pior olhar de sobrancelha levantada para reprovar o comportamento típicamente tuga olho para cima e era ele, o Lourenço. Não o via há algum tempo, desde que terminamos tinhamo-nos apenas cruzado duas ou tres vezes no cabeleireiro e falavamos de coisas triviais do quotidiano, mas ali foi quando tive a certeza que fiz o melhor por ele. Ali estava ele com as suas duas filhas lindas a construir castelos na areia, sabia o quanto ele queria ser pai cedo. Nem sequer me perguntou se era meu filho, acho que mesmo assim prefere não saber pormenores da minha vida, apenas se estou bem. E foi o que lhe disse, que estava óptima e ainda mais porque via que ele estava feliz. Despedimos-nos desejando continuação de boas férias e de uma boa vida um ao outro. Quando virou as costas não pude deixar de sorrir ao dar de caras com aquela tatuagem que já não me lembrava ver (da última vez que tinha visto, tinha sido apenas por breves segundos, num jogo que tinha dado na televisão, onde ele com a euforia de ser campeão sacou o equipamento). A tatuagem continuava ali, no meu nome ele tinha agora um gatafunho, pensei para mim com o humor estúpido que me é caracteristico, pudera... foi isso que fui na vida dele, coitado!
Continuo a não saber se entrou na minha vida na altura certa ou errada, sei que foi muito importante para mim e também sei que vou lembrar-me dele como a pessoa que fez de tudo por mim. Pessoas como ele são raras. Provavelmente não encontrarei mais nenhuma.
Hoje, além de pedir às estrelinhas que ele seja mesmo muito feliz e se sinta completo, peço sempre para um dia amar alguém como fui amada e para que me cure de uma vez por todas das lesões do passado. Só isso!

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