quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mais uma história em jeito de declaração de amor:


"Esta é a história de um encontro. De duas pessoas que, em determinado momento, estiveram na mais perfeita sintonia. É também a história de um desencontro, ou melhor, de um encontro adiado. Quem sabe um dia, quem sabe em breve? E é contada por uma mulher que jamais vai esquecer este homem que entrou na sua vida como uma serena brisa de Verão mas que saiu de rajada. Por uma mulher que, apesar de tudo, teima em acreditar que o sonho comanda a vida e que nada, nem ninguém, é maior do que a vontade de dois corações que querem bater em uníssono. Por uma mulher que não quer dizer “adeus”, prefere, sim, enunciar um repetido “até já”.

“Faz hoje um mês. Estavas estendido a meu lado na minha cama. Um frio horroroso que te valeu uma valente gripe mas não o sentíamos. Estávamos imóveis, calados, olhando apenas um para o outro. Olhos nos olhos. Nada era preciso dizer que os olhos não o tivessem já dito. Com a ponta dos teus dedos, percorrias em silêncio o contorno das minhas sobrancelhas, vezes e vezes sem conta. Foi um momento perfeito, daqueles que, se pudesse, congelaria para o reviver repetidamente.
Eu, com a minha mania desbocada de ter sempre que falar e algo para dizer, quebrei o silêncio, meio a brincar, meio a sério, que aquele caminho que ali se tinha iniciado podia meter-nos numa “alhada”. Foi esta mesma a expressão que usei. E tu, sem desviar os teus olhos dos meus, sem parares de desenhar levemente, com a ponta dos teus dedos, o contorno das minhas sobrancelhas, disseste-me que não tinhas medo de nada.
Nesses dois dias, em que nos olhámos olho no olho em silêncio, fui verdadeiramente feliz. Era uma felicidade tranquila, baseada na cumplicidade de um olhar que diz tudo. Um olhar de quem nada teme.
Já passou um mês e desde então muita coisa sucedeu. Do mais alto pico caí para o mais profundo vale. Veio a tua ausência. Veio o teu silêncio. Um silêncio que me magoou profundamente. Não o consigo compreender. Detesto-o. Anseio pela voz do meu amigo, sim, do teu “eu” que era meu amigo e que falava comigo até das mais pequenas banalidades, mas que essa partilha tornava até as coisas mais prosaicas da vida numa conversa interessante e que enriquecia os meus dias. Nunca, como nas últimas semanas, senti tanta necessidade da tua voz. Foi apenas por respeito à tua vontade de silêncio que não a procurei. Quebrei hoje essa vontade, talvez pela última vez, para te dizer exactamente o que quero e o que sinto. Tudo aquilo porque passei nas últimas semanas dá-me o direito de seguir a voz do meu coração. Antes me arrepender de ter feito do que nunca saber como teria sido.
Gosto de ti. Pronto! Gosto de ti e muito! Acho que vales a pena lançar-me em queda livre e esperar ganhar asas no caminho. Nunca o disse, mas naqueles instantes em que percorrias com a ponta dos dedos o contorno das minhas sobrancelhas, senti que era capaz de largar tudo e, se tu o quisesses, iria contigo até ao fim do mundo. Nunca senti isso por ninguém, nem pelo homem com quem estive 15 anos e amei de paixão. Mas naqueles instantes tive essa certeza de que iria contigo sem hesitar.
Um dia disseste-me que querias muito ter-me ao pé de ti. E eu respondi-te que só dependia da nossa vontade. Pois a minha vontade é essa, mantém-se de pedra e cal. Sei que não se pode voltar atrás no tempo e recomeçar do ponto onde estávamos há um mês atrás. Mas também sei que podemos começar agora a fazer um novo fim. Basta termos vontade. E eu tenho muita, mas muita vontade de ser feliz. E sei com uma convicção profunda que tu podes fazer-me feliz. Um dia disseste-me também que eu te fazia feliz, lembras-te? É tudo o que quero!
Sabes, neste momento, quem não tem medo de nada, de nada mesmo, sou eu. Isso sim está a meter-me medo. Para mim, neste momento, não há impossíveis àquilo que a minha vontade ditar. Aconteceram, neste mês, coisas que vieram testar ainda mais a matéria de que sou feita. Um duro teste, que ainda não terminou, mas que apenas veio reforçar tudo aquilo em que acredito, tudo aquilo porque luto, toda a vontade que tenho em transformar a minha vida numa obra de arte. No espaço de escassos dias, soube que o meu pai está a morrer e vi-o, durante dois dias, literalmente fazer um braço de ferro com a morte. Vi-o lutar e tentar agarrar-se à vida com as poucas forças que ainda lhe restam. Num desses dias em que temi perder o meu pai, fiquei “sem” a minha mãe, que piorou e foi internada em perigo de vida no hospital. De um momento para o outro, fiquei “órfã” de pai e mãe em vida. Um a lutar com a morte, o outro a tentar agarrar-se à sua própria vida. Logo quando precisava mais do colo de um e do outro.
Houve momentos em que desejei que o chão se abrisse debaixo dos meus pés e me engolisse, para acabar de vez com aquele imenso cansaço. Valeram-me os bons amigos que tenho, que me estenderam as suas mãos para me puxar. E valeu-me a tua voz, que eu mentalmente escutava dizendo “Princesinha, vai ficar tudo bem”. Sei que não passava da minha imaginação da tua voz, era apenas o meu desejo que assim fosse, mas nesses momentos deu-me a força que precisei para manter a minha cabeça à tona da água. Se calhar estou a ficar louca, porque já oiço vozes dentro da minha cabeça. Que seja assim sempre tão doce a loucura.
Hoje tenho o meu pai a tentar recuperar e a fintar novamente os piores prognósticos. Vejo-o melhorar ligeiramente de dia para dia. A minha mãe ainda está no hospital, mas deverá sair dentro de dias. E eu, aqui estou, muito cansada, mas com a mesma vontade férrea de passar pela vida a sorrir. E sorrio, continuo a sorrir, apesar de tudo. E sorrio sem medo de nada. Sem medo do futuro, sem medo do inesperado, sem medo do imprevisto. Concentrada apenas em viver em pleno o presente e convicta de que tenho o direito a lutar por tudo o que quero e a não me resignar com as pedras que me são colocadas no caminho. “Pedras no caminho? Recolho-as todas. Um dia vou construir um castelo”.
Um dia disse-te que era um bocadinho mandona, lembras-te? Pois não me conformo, nem me resigno. Quero-te e não tenho medo de ir até ao fim do mundo se for preciso. Mas também não tenho medo de te deixar ir. Tudo depende de ti e da tua vontade. A minha já sabes qual é. Resta saber que se sabes qual é a tua. As palavras são fáceis de dizer, o que é difícil é fazer acontecer, ter a coragem de ousar, vencer os medos, não pensando no amanhã, simplesmente vivendo intensamente os momentos bons com que a vida nos presenteia.
Se me quiseres aqui estou. Não vou mais correr atrás de quem sabe onde me encontrar, por isso esta será a última vez que te escrevo. A seguir fico eu em silêncio. Mas o meu silêncio só existirá na medida do teu. Basta uma palavra tua. Basta quereres. E tu querias, lembras-te? Disseste que querias. Não tenho razões para duvidar que não tivesse sido verdadeiro.
Não te posso prometer nada, a não ser dar-te o melhor de mim. Um dia disseste que eu era fantástica e muito especial para ti. Não quero que o digas, quero que o sintas e o mostres. E que tal fazeres de mim uma pessoa ainda mais fantástica e especial? E que tal deixares-me ajudar-te a ser uma pessoa ainda mais maravilhosa do que és? Sinto que juntos podemos fazer de cada um de nós uma pessoa ainda melhor. Basta termos vontade. Eu não tenho medo de nada! De nada! E tu? E não me arrependo de nada. Só daquilo que não faço, daquilo que não digo, daquilo que não me permito a sentir, de não tentar ser feliz. Eu já te disse que gosto de ti? Gosto de ti, muito! Manda esse silêncio “pastar” e vem sorrir para a vida comigo.

Beijo”

Desde que estas palavras foram escritas passou mais de um mês. O meu pai faleceu. Nunca veio a resposta. Provavelmente nunca virá. Mas nada do que senti mudou. Em vez de me concentrar no que podia ter tido, no que podia ter sido, prefiro guardar o que tive, o que vivi, e levá-lo comigo, dentro de mim, para todo o lado. Nada perdi. Estes momentos e a pessoa com quem os vivi fazem hoje parte do meu ADN. São o meu património mais precioso.
E, em vez de ficar triste pelo que não aconteceu, escolho olhar para a imensa felicidade do que foi. Pode ter sido breve, pode ter sido fugaz, mas a intensidade do que se sente não se mede com fita métrica nem se pesa na balança.
O silêncio que entretanto se interpôs deixa-me triste, obviamente. Sobretudo porque verdadeiramente acreditava, e ainda acredito, ter encontrado alguém que me “falava” à alma e me completava. Quem sabe a “tampa da minha panela”? Mas não vou deixar que isso defina o nosso “encontro”, nem estrague a beleza do que foi vivido. Vou lembrar sim o silêncio que se fazia enquanto os nossos olhos “conversavam”.
Dizem-me vocês, que aquilo que vivemos não foi sentido de forma igual por ele. Que se assim fosse, nada, mas nada, justificaria o silêncio após ter escrito estas palavras. Talvez. É uma possibilidade. Mas sabem, isso não me importa. Nem muda nada do que senti. Eu sinto com o meu coração, não com o dos outros. O facto de ele poder não se ter entregue da mesma forma, não tira nenhum valor ao momento e à forma como o vivi. Acima de tudo, respeito que cada um é como é, que gosta e sente do seu jeito. Não é por isso que vou desvalorizar uma das experiências mais bonitas da minha vida e que, apesar de ter durado apenas um instante, foi o suficiente para se tornar eterna.
Quem sabe um dia voltaremos a encontrar-nos? Se assim tiver de ser, será, e se assim for, isso vai deixar-me muito feliz. Imensamente feliz. O certo é que jamais esquecerei este homem. Passou pela minha vida a “correr”, mas marcou-a para sempre e será sempre capaz de me fazer sorrir. E sonhar. E tornar a sorrir..."

3 comentários:

  1. Das histórias, até agora, mais bonitas que li aqui... e bem que podia ser a minha

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    1. É sem dúvida fantástica e uma mais valia para a nossa página :)

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  2. Há que ler esse lado positivo e forte. Boa sorte.

    :)

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