terça-feira, 24 de abril de 2012

Cá está mais uma história de amor:



Antes de me teres beijado com a boca já me tinhas beijado com os olhos. Vezes e vezes sem conta. Beijo bom, doce, terno, que deixava adivinhar outros tantos, esses diferentes, também ternos e doces, mas de uma intensidade tal que me deixava os joelhos a tremer e “sem” vontade própria: “sou tua, faz de mim o que quiseres”.
Nunca tal me tinha acontecido. E já tinha sido beijada (e bem) várias vezes. Mas aquela sensação de perna bamba jamais. “Estou tramada. Completamente apanhadinha”, foi o único pensamento que consegui articular. Depois disso, um estado quase de inconsciência: “sou mesmo tua, faz de mim o que quiseres”. Beijavas-me com o corpo todo. Os teus lábios eram apenas o mensageiro. Beijavas-me a boca e chegavas-me à alma.
Não foi, no entanto, esse o momento que em me apaixonei por ti. Esse apenas oficializou aquilo que já tinha acontecido antes, mas de que não me tinha apercebido. Ou, quem sabe, tentava silenciar. É curioso como o amor acontece de pequeno nada em pequeno nada, se vai instalando através das coisas simples. Os grandes feitos e as frases épicas apenas consumam aquilo que já pressentimos.

A nossa história foi breve. Conhecemo-nos numa noite fria de Janeiro e pouco falámos. Ou melhor, pouco falei, tu fizeste as despesas todas. 15 minutos apenas, com muito disparate e patetice à mistura. “Adeus, até qualquer dia, quem sabe nunca mais” e cada um para seu lado. 300 e alguns quilómetros de distância entre nós. Nem o meu verdadeiro nome te tinha dito. E porque haveria de dizer? O “pintas” do Norte vem aqui para a minha cidade mandar piadinhas a “alfacinha” de nariz arrebitado e com a mania que é muito senhora do seu nariz. Vamos lá a ver quem é que brinca melhor. “Chamo-me Paula” e Paula fiquei. Pensava eu...

Dias depois, pedido de amizade pelo Facebook. “Não adiciono, não te conheço, falei contigo 15 minutos apenas, de conversa disparatada e palerma”. E ali ficou o pedido pendente, um dia, dois dias, três dias, até um dia em que “Porque não?”. Pedido de amizade aceite.

Daí a te teres instalado na minha vida foi um instantinho. Da conversa palerma passámos à descoberta e partilha do que esperávamos da vida, todos os dias um bocadinho mais próximos, surpresos e satisfeitos por percebermos que, afinal, não somos nenhumas aves raras. É que a 300 e alguns quilómetros de distância está alguém que olha para esta coisa que se chama vida de um jeitinho parecido ao nosso. Pena a distância... Que se lixe a distância, afinal, não é nada que um par de horas e um depósito de gasóleo não resolva!

Desses diálogos pela rede, sem os quais já não concebia os meus dias, ia crescendo uma vontade cada vez maior e mútua de um café à séria, um abraço apertado, olho no olho, para consumar uma amizade que tínhamos já por certa. Amizade... Pois... Ilude-te menina! Os SMS’s a desejar sonos tranquilos e coloridos, à hora de deitar, alimentavam mais o sonho de “engolir” a distância. “Boa noite, ‘miguita’, dorme bem”. Até um dia em que num café solitário, que se desejava acompanhado, um pacote de açúcar maroto e armado em “Fortune Cookie” atiçou de vez um lume que de brando já tinha pouco. “Um dia faço 300 kms para estar contigo. Hoje é o dia”. Sorriso rasgado, denunciando um mais que certo brilho no olho, abençoados senhores da tecnologia que um dia se lembraram de encaixar uma câmara fotográfica no telemóvel e a moda pegou. Foto tirada, upload feito, “olha só o maroto do pacote de açúcar que me saiu hoje”, “pacote de açúcar maroto e sábio”, respondeste, “estas conversas estão a precisar de visão, audição, tacto, enfim, dos sentidos todos, fazer dos 300 kms não mais que 30 cms”, arrisquei-me a propor, “a que horas me queres aí amanhã?”, perguntaste.

Amizade... Pois... “Amanhã” foi o dia em que te abracei pela primeira vez, abraço apertadinho, prometido há várias dias, te beijei pela primeira vez, senti a doçura do teu corpo pela primeira vez. Me apaixonei por ti. Ou já estaria apaixonada?...

Foi um dia perfeito. Perfeito. Não me digam que não há dias perfeitos porque os há. Eu tive um dia perfeito. Tivemos um dia perfeito. Temperado de riso, conversa franca, olhar cúmplice. O beijo perfeito apenas selou o que já o era e levou ao que foi depois. Dois corpos “conversando” de forma perfeita, descobrindo-se, é desnecessário tentar entender seja o que for. Já o disse um dia, a intensidade do que se sente não pode ser medida com fita métrica nem se pesa na balança. Basta um instante para atingir o carácter de eterno.

Depois deste dia perfeito tivemos ainda uma noite perfeita. Agora eu aí, a 300 e alguns quilómetros da minha cidade. Mostraste-me a correr um pouco do teu mundo a caminho da tua casa. A correr porque era lá que queríamos estar. Para um abraço mais que desejado com a forma do corpo de um e do outro. E assim adormecemos. E assim acordámos. Abraçados.

Seguiu-se a vida e as suas armadilhas. Os equívocos. No fundo, os receios alimentados por 300 e alguns quilómetros de distância. Admito-o. Foram momentâneos mas existiram. Não duraram mais de um par de horas. Mas quando os afugentei, já se tinham interposto os teus. Logo tu, que me tinhas dito que não tinhas medo de nada, muito menos da distância, parecias agora receoso. Veio o teu silêncio que nunca mais se calou.

Não sei se algum dia te voltarei a ver. Não sei se algum dia calaremos este silêncio. Depois disso já te o disse, por mais do que uma vez, que a minha vontade é reduzir estes 300 e alguns quilómetros a ainda menos que 30 centímetros. Nem que tenha de virar a minha vida do avesso. Mas dois monólogos não fazem um diálogo. Preciso que a tua voz soe e se junte à minha.

Restam-me os nossos momentos perfeitos. Instantes apenas, mas que foram o suficiente para me apaixonar por ti. Para entrares na minha vida e dela fazeres parte, para sempre, nem que seja sob a forma de memória doce e terna. Agarro-me ao que tivemos. A esse dia perfeito, de riso solto, conversa franca e olhar cúmplice. De partilha e diálogo com o coração à mostra. Quando me falaste de ti, das coisas que te fazem rir com gosto, dos sonhos que ainda alimentas, daquilo em que ainda não desaprendeste o teu lado de menino. De tudo o que ainda te faz acreditar na ternura, do que te faz crescer água na boca, dos momentos em que a vida te doeu tanto. Sentado a meu lado, de olhos postos no sol que se punha no mar de uma praia de Sintra, falaste-me de ti. E o momento em que mais te confessaste foi quando o teu silêncio conversou com o meu. Como se estivéssemos sozinhos no mundo. Às vezes não são mesmo precisas as palavras. Olho no olho. Esse foi o nosso primeiro beijo. Antes de me beijares com a boca, já me tinhas beijado com os olhos.

2 comentários:

  1. É ridiculo que este texto ainda não tenha comentários! É perfeito :)

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    1. :) com certeza os leitores suspiram ao ler as histórias que aqui publicamos, agradecemos muito os comentários que nos vão deixando, mas cada suspiro a transbordar felicidade, coincidência e até comparação entre vidas e respectivas histórias já é o suficiente para nós, e a certeza de saber que esse suspiro do outro lado transborda a vontade de contar a sua própria história, e essas sim são as mensagens que mais queremos receber e que queremos partilhar com todos vós. :)

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