quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mais uma história:


Um dia fazes de mim princesa do Minho. Era assim que pensávamos naquele tempo. Tínhamos casamento marcado, roupa escolhida ao mais pequeno dos detalhes, filhos para nascer. Tínhamos tudo. 
Na verdade não passavam de pensamentos, ideias, sonhos, objectivos. Mas era essa a nossa realidade. Pelo amor atribulado, pela relação completamente utópica (no sentido de perfeita mas real, não existia sequer a pretensão de algo género conto de fadas, era perfeita não só pelo trabalho que deu em alcançá-la mas também pela sinceridade com que a vivíamos e encarava-mos) que tínhamos.
Momentos perdidos no tempo. Não era sequer variável a ter em conta. Um do outro, um para o outro, mas cada um no seu mundo. Vivemos assim nessa altura. Deixei de me sentir bem em outros lugares. Só no nosso canto. Quando o deixava sentia um aperto, e de manhã, ao saber chegar, a adrenalina de uma criança em dia de natal. Da porta para dentro estava segura. Não que existisse algum tipo de bicho papão lá fora. Não. Apenas não era o meu espaço.
A casa era tua, é um facto. Mas passou a ter também um bocadinho de mim. Acredito, inocentemente, que talvez sentisses a minha falta num ou noutro momento. Trazia-te qualquer coisa de feliz, qualquer coisa que há muito não vivias. Os olhos sempre o confirmaram. Era assim a minha presença. Ainda que te tente justificar, não o consigo fazer. Por pior que tudo corresse do outro lado, era-me inevitável sentir uma alegria imensa ao entrar no “nosso mundo”.
Para a comum das pessoas talvez não faça sequer sentido o que digo. Para mim chegava. Baseava-se em simples factos e acontecimentos, esse encantamento que sentia. Ali podia ser eu. Abria janelas para deixar o sol espreitar. Um sofá virado à rua que me permitia ter luz e ouvir passarinhos em dias quentes, chegava. Como chegavas também tu e uma guitarra. Dias inteiros. Confesso-te que levarei comigo para sempre as músicas que tocavas. Uma em particular. Tocará no meu coração o resto da vida, como uma melodia feita só para mim, ainda que não o fosse. Eu não me importava. A forma como a tocavas fez dela minha.
Nestes pequenos nadas residia a magia. Não nos apercebíamos que o mundo lá fora não parava. Só nós. Era como te disse uma nostalgia do que ainda não passou.
Um dia que dês a conhecer este texto a alguém fá-lo a quem como eu tenha partilhado aquele lugar. E que te tenha vivido a ti também. Só assim poderão entender a imensidão de paz que a atmosfera da tua casa transmitia e o ser especial que é a tua pessoa.
Este texto é não só uma lembrança para nós, mas para os nossos. As agruras da vida certamente nos trarão alguns dissabores, mas promete que lerás isto sempre que precisares de um mimo e eu não estiver. Pelo tempo, pela vida. Lê, relê. Decora como decoraste as curvas sinuosas do meu corpo, a minha gargalhada que tantas vezes foi ouvida naquele espaço.
Nunca esqueças. Porque ali fomos felizes. Aqui. Hoje. Não digas nada.
A 26 de junho de 2011. Já foi há muito tempo. Como nós. Hoje não nos falamos.

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