Fora um dia de aulas como tantos outros, com uma
exceção: saímos cinco ou dez minutos mais cedo (coisa rara!). Subi a rampa em
direção á saída do Centro de Formação. Acompanhava-me a Joana, uma colega de
turma. Como a espera pelo transporte se faria longa e como a fome apertava,
convenci-a a fazer-me companhia até ao café mais próximo. Aí comprei um
saquinho de croissants recheados, que prometiam entreter-me a boca, e o
espirito, até á chegada do malfadado autocarro!
Seguidamente, na nossa habitual lentidão, dirigimo-nos para a paragem. Á
medida que me aproximava concentrava-me na figura de um rapaz que já lá estava,
acompanhado de outro (quase invisível, diga-se!). O percurso, de um ou dois
minutos, parecia como que um trecho de eternidade, permitindo-me decorar cada
pormenor visível daquele ser humano de estatura baixa, mas imponente. Era
inegavelmente mais novo do que eu, conclui rapidamente. Os seus olhos deixavam
antever, no entanto, uma audácia estranha que não combinava com a sua faixa
etária. A pele, extraordinariamente morena, seduzia-me por completo. O sorriso,
mais iluminado ainda pelos raios de sol que nele incidiam, traduzia o cúmulo da
beleza, num misto de jovialidade e franqueza.
Nunca o
tinha visto por ali, o que me levou a concluir que, ou estaria ali por acaso e
não o voltaria a ver, ou seria, com muita sorte, um novo aluno do Centro de
Formação!
Dei por
mim já na paragem coberta. Tentei, com todas as minhas forças, disfarçar a
atenção que o rapaz me merecia, valendo-me por isso da Joana, que por minutos,
ficara também invisível! Inventei mil e um assuntos para protelar uma conversa
sem nexo. Sentia os olhos dele pousados em mim…não quis retribuir. O meu
interesse seria demasiado óbvio!
Lembrei-me
dos benditos croissants e da fome que ainda apertava. Abri o pacote e comecei a
comer, distraindo-me por alguns segundos. Levei a mão ao decote, para sacudir
umas migalhas que entretanto caíram. Levantei a cabeça e lá estava ele, fixado
em mim. Que atrevimento! Com qualquer outro rapaz, em
qualquer outra altura, teria reagido com uma frase do género “Precisas de uns
óculos?”. Mas não fui capaz! Toda eu era timidez debaixo do seu olhar
confiante.
Depois de
quase meia hora em tortura, chegou finalmente um autocarro que seguia para o
lado oposto do meu. Nele entraram a Joana, o rapaz-mistério e o outro que o
acompanhava. E eu fiquei ali, sozinha com a minha curiosidade, até que
finalmente o meu autocarro chegou!
No dia
seguinte tive uma verdadeira surpresa! Ele chamava-se Pedro. Frequentava no
Centro de Formação o curso de canalização, mas apenas duas vezes por semana. E
como andava sempre com uma espécie de uniforme, não era fácil distingui-lo dos
restantes da sua turma. E ao que parece, já andava de olho em mim há algum
tempo. Tudo isto soube graças há Joana, que afinal até conhecia o rapaz assim
como o seu amigo invisível, colega de turma afinal.
Rapidamente
me chegou um pedido para lhe dar o meu número de telemóvel. Depois de duas ou
três hesitações, arrisquei. No mesmo dia enviou-me mensagem e no mesmo dia,
julgo, soube que estaria de férias duas semanas. Não o veria tão cedo portanto!
Foram duas
semanas de sms’s, fotografias…e desabafos. Ao mesmo tempo que desejava que o
tempo passasse para voltar a encontra-lo, temia por esse momento. Não seria eu
mas a rapariga tímida da paragem!
Chegou
finalmente o dia, 16 de Abril de 2009. Ele esperava por mim perto da minha sala
de aula. Enchi-me de coragem e fui até ele. Cumprimentámo-nos com um beijo no
rosto. Pela primeira vez senti o calor imenso da sua pele, durante o segundo
que a sua cara encostou á minha. Senti o seu cheiro envolvente, não queria sair
dali. Mas as aulas esperavam, e a timidez, mais a minha que a dele, não deixava
espaço para palavras.
No
entanto, foi nesse mesmo dia, num dos intervalos, ao ar livre, debaixo de um
candeeiro meio destruído, que aconteceu o que ambos ansiávamos desmedidamente.
Não sei em que ponto da conversa, em que nível de ansiedade. Foi natural como
se não fosse o primeiro. Ele beijou-me e eu retribuo, não poderia ser de outra
maneira. Começou a chover, não mais me esquecerei.
Julgo que
no intervalo seguinte a afamada perguntou imperou. Olhou-me ele, tão sério como
nunca o tinha visto, e disse-me que “estava na hora de fazer a tal pergunta”.
Achei que o “queres namorar comigo” ficava estranho ali, por isso disse-lhe
apenas: “Não precisas perguntar. A minha resposta é sim.”
Amei-o
desde o primeiro momento. No entanto, talvez nos primeiros tempos não tivesse
noção disso. Não quis criar demasiadas expectativas, não quis planos nem
promessas.
Mas passaram-se
semanas, meses…e de repente, três anos. A cara bonita que eu descobri naquela
paragem é agora um bom amigo, um bom namorado, um excelente amante.
Tem sido
bom, mas não tem sido fácil. Há já um rol de lágrimas, e discussões e
arrependimentos. Há lições enormes, de vida e de amor. O que tive um dia como
brincadeira é o compromisso mais sério que alguma vez assumi. Quero-o para a
vida, não podia ser de outra maneira!
Gostei da tua história. A minha começa de maneira diferente, mas no fim vai dar ao mesmo :)
ResponderExcluirFelicidades!
Que lindo :)
ResponderExcluirÉ engraçado encontrar por aqui a minha história, a MINHA tão só nossa! Tinha de conhecer o blogue, e adorá-lo tanto quanto o seu conceito! Continuem amores fora..pois que eu continuarei a ler-vos!
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